domingo, 18 de março de 2012

NA ESTRADA COM AS "BIG BANDS"


PESQUISA DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
 (UNICAMP) – 21 a 27 de outubro de 2002
 Pesquisadora Cristina Meneguelo

 Departamento de História do Instituto de Filosofia 
 e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp



                      
                      Sobre a pesquisa...
                      Durante décadas  as Big Bands foram a coqueluche dos salões 
   de bailes, embalaram sonhos e fizeram a juventude brasileira dançar de rosto 
   colado ao som de In The Mood, Aquarela do Brasil, Petit Fleurou, Cheek to
   Cheek. Os rapazes com terninhos justos ou jaquetões de couro. As moças de 
   vestidos rodados abaixo dos joelhos e cabelos armados.
                      Há poucos meses Cristina vem levantando material sobre as 
  Big Bands (ou grandes orquestras) principalmente as do interior do estado.
  A idéia é desenvolver um projeto de resgatar a memória das orquestras 
  que fizeram sucesso em décadas passadas, se continuam em atividade e 
  se, de algum modo ou de outro, ainda mantém seguidores ou quem as aprecie.
                      O que a pesquisadora pretende é elaborar um perfil da história
  dessas orquestras, as influências que receberam de bandas norte-americanas,
  como escolhiam as músicas que compunham o repertório, sua performance no
  palco.
                      As Big Bands brasileiras constituíram um fenômeno histórico e
  social de profundo interesse e que até hoje não recebeu um estudo histórico
  aprofundado.
                     Pouco se sabe sobre a história do fenômeno que foram as Big 
  Bands nacionais, conforme explica a pesquisadora. Como se sabe muito pouco
  do rock'roll, gênero que misturava elementos da música negra (blues e rhythm)
  à dos brancos (country), e também da Jovem Guarda, movimento que surgiu no
  Brasil nos anos 60, tendo com seus principais expoentes Roberto Carlos, levantar
  também o que foi feito dessas bandas, de seus músicos, se ainda vivem, no que 
  trabalham, se deixaram a música ou se ainda a fazem por diletantismo. Enfim,
  vou estudar a trajetória dessas Big Bands, que fizeram a história da música 
  brasileira nas décadas de 1940 e 1950, adianta Cristina.

                      Um pouco da história...
                      Por volta de 1953 essa combinação caía no gosto do público. 
  Sucesso não apenas no caso da orquestra do pioneiro Benny Goodman, 
  mas também com a orquestra do clarinetista Artie Shaw, de Tommy Dorney
  (que trazia Sinatra como seu cantor principal), Harry Jamnes (antes parceiro
  de Goodman), Duke Ellington e , talvez a mais célebre de todas, a Orquestra
  de Glenn Miller. No entanto, orquestras menores, célebres nos Estados Unidos,
  também tiveram seus dias de glória, como as de Sammy Kaye, Jan Garber, Bem
  Pollack e Guy Lombardo, lembra a professora. A pesquisa de Cristina levou-a a
  concluir que o apogeu da popularidade desse fenômeno se deu durante a Segunda
  Guerra, e, paradoxalmente -  pelo menos nos Estados Unidos - esses foram anos
  de afluência e consumismo; o declínio das orquestras se iniciou com o fim da guerra.
                      "Muitos músicos que haviam sido recrutados como soldados não 
  retornaram às suas atividades; outros intérpretes, abandonando suas orquestras,
  obtiveram sucesso quando optaram pela carreira solo", observa Cristina.
                      

                      Como aconteceu no Brasil...
                      O fenômeno se estendeu ao longo das décadas de 1950 e 1960, 
  fortemente inspirado pelo exemplo americano.
                      Curiosamente, é no interior de São Paulo que começam as orquestras
  grandes e pequenas, locais ou em constantes excursão, que pontuam o calendário
  com apresentações, geralmente associadas a bailes promovidos pelos clubes das
  cidades.
                      É engraçado que muitas dessas "pequenas bandas" eram formadas
  com o único propósito de se apresentar em bailes locais e festas de formatura. Havia
  um "quê" de Glenn Miller em cada uma delas, avalia a pesquisadora. Dessa forma, 
  cidades do interior do Estado como Tupã, Guararapes, Bauru, Marília, Paraguaçu-
  Paulista, Jaboticabal, Catanduva e mesmo a capital de São Paulo tinham orquestras
  disputadíssimas para as festas de formatura, bailes das debutantes nos clubes
  noturnos e outros eventos. Para Cristina Meneguello, o fenômeno do sucesso das
  grandes orquestras sustentou-se a partir de um complexo equilíbrio entre apresentações
  nas rádios, notícia na imprensa especializada, gravação de discos, apresentação em
  bailes de formaturas ou bailes especiais nos clubes.Tempos depois, as apresentações
  passaram a estender-se também nos cinemas.
                        "Desse modo, os sons ganhavam faces. O líder ou maestro
  (bandleader) parecia estender seu carisma a seus músicos, os quais do mesmo
  modo, faziam suas interpretações muitas vezes de forma coreografa, levantando-
  se em movimentos-chave da música, movendo-se de acordo com cadência da
  música, tornando a apresentação um espetáculo à parte". A pesquisadora da 
  Unicamp explica que em décadas passadas a música que se executava no 
  Brasil ficou como que "encapsulada", talvez por ser considerada música de 
  imitação, coisa americanizada.
                         De qualquer forma, os bailes dos clubes da época eram 
  um momento de congregação. Havia bailes para todo tipo de acontecimento: 
  baile da primavera, do carnaval, de fim de ano e, talvez o mais importante – 
  ou pelo menos o mais comentado na cidade — o baile das debutantes,quando 
  a mocinha era oficialmente apresentada à sociedade.
                        “Pude observar que desde a formação da orquestra brasileira,
  o próprio ritual de apresentação, tudo era inspirado nas Big Bands americanas.
  Desde o repertório, quase todo norte-americano. Curiosamente, nota-se uma
  mescla de músicas nacionais, como o samba”, diz Cristina.Orquestras do estado 
  de São Paulo como as de Nelson de Tupã, Continental de Jaú, Pedrinho de Guararapes,
  a Orquestra Tabajara, uma das mais importantes e antigas, e até mesmo as de caráter
  mais local, como a Marajoara de Bauru, a Orquestra de Berico, de Campinas, a Sul
  América de Jaboticabal e entre outras a Arley e seu Conjunto de Ritmos, de 
  Catanduva, se enquadravam nesse perfil. No Brasil, o auge desse fenômeno 
  se deu efetivamente nas décadas de 1950 e 1960.
                       Não se pode falar das orquestras brasileiras sem citar as norte-
  americanas. As big bands nos Estados Unidos, segundo Cristina Meneguello, eram 
  compostas por músicos de clubes que combinavam elementos de jazz a ritmos 
  mais suaves e dançantes, produziam um estilo popular que teve como precursoras
  as orquestras de Paul Whiteman e Vincent Lopes, ainda em 1910. Como essas
  pequenas bandas aumentaram gradativamente de tamanho, passaram as ser  
  denominadas Big Bands. “Com a expansão do rádio na década de 1920, o som 
  desses grupos musicais se tornou rapidamente acessível a uma audiência antes
  inimaginável, visto que apenas em viagens pelo país ou em discos poderiam
  se tornar conhecidas”, diz.
                       Geralmente as big bands eram constituídas de grandes seções
  de instrumentos de sopro, à maneira de orquestras, acompanhadas por piano, 
  baixo e bateria, assim como por cantores, os chamados crooners,que executavam
  as baladas românticas. O clarinetista Benny Goodman foi um dos pioneiros em aliar 
  a música de swing – jazz suingado, como se dizia no Brasil – com outras melodias 
  românticas, mais populares, revela Cristina. “Oswingpermitia que os líderes das
  orquestras e  outros músicos mostrassem suas habilidades como instrumentistas, 
  baladas eram mais dançantes.Não por outra razão, as orquestras utilizadas para
  animar bailes e festas eram diferentemente qualificadas de dance bands”.

ARLEY E SUA ORQUESTRA
Clube de Tênis Catanduva

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