Literatura |
sábado, 1 de dezembro de 2012 |
Livro expõe cena musical paulistana nos anos 1960 |
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| Maestro Antônio Arruda, o “Cangaceiro”, personagem na obra |
Um cenário musical em plena ebulição, que atraía instrumentistas de diferentes localidades, com a oportunidade de tocar em bailes, boates, inferninhos, estúdios de gravação e emissoras de televisão e rádio. Assim era a década de 1960 na capital paulista com o ápice das orquestras, época retratada pelo novo livro do músico e jornalista catanduvense Fernando Lichti Barros: “Do calypso ao cha-cha-chá - Músicos em São Paulo na década de 1960”.
Como fez em sua primeira obra, “Casé - Como toca esse rapaz!”, premiado pela Funarte em 2010, o autor inverte a perspectiva que habitualmente privilegia cantores e compositores e joga holofotes sobre o ambiente dos instrumentistas, que em geral permaneceram à sombra das grandes estrelas. Adolar, Zé Bicão, Boneca, Bil, Chu Viana, Kuntz Naegele e o próprio Casé são alguns dos personagens que Barros resgata em seu segundo livro, além de outros nomes que mais tarde passariam a ser cultuados, como Raul de Souza, Hermeto Pascoal, Airto Moreira, Cesar Mariano e Theo de Barros.
A mesma abordagem o autor deu à pesquisa para reproduzir a trajetória do saxofonista Casé (José Ferreira Godinho Filho). Encontrado morto num hotel da Boca do Lixo paulistana, em 1978, o genial instrumentista morou em Catanduva em 1966 e, na década de 1970, viveu em Rio Preto. “O que eu acho curioso é que dessa vez não tem um protagonista: todos são protagonistas, são muitos personagens, que vão percorrendo a década”, fala Barros, que hoje faz o lançamento do livro em sua terra natal, ao meio-dia, no Bar da Alda.
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| Luiz Loy, que tocava em “O Fino da Bossa”, com autor do livro |
“Estou convidando músicos de Catanduva para darem uma canja neste sábado. Tomara que tudo acabe em baile.”Enquanto que para escrever o livro sobre Casé o autor levou seis anos de pesquisa, em “Do calypso ao chá-chá-chá” o processo durou um ano e meio. “Continuei em contato com os músicos dessa geração. Comecei a fazer entrevistas, sabia que ia fazer um segundo livro com esse mesmo tema.
Só que à certa altura achei que a coisa ia se perder, porque o negócio é muito amplo. Então resolvi fechar o foco na década de 1960, porque foi lá onde tudo aconteceu: Bossa Nova, Jovem Guarda, Tropicalismo, os famosos programas de TV, as orquestras tocando, os grandes bailes. Era um grande momento”, explica o jornalista.
No livro, os personagens se encontram no Ponto dos Músicos, que ficava na esquina das avenidas São João e Ipiranga. “Lá era uma espécie de escritório informal dos músicos. Quando alguém queria encontrar um amigo, procurar trabalho, era para lá que seguia.”
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| Capa do livro “Do calypso ao cha-cha-chá”, de Fernando Barros, natural de Catanduva |
Obra reúne várias histórias curiosas
Entre as cerca de 80 entrevistas e buscas em arquivos de jornais, Fernando Barros fala que acabou encontrando histórias curiosas. Uma delas envolve o grupo “Oliveira e Seus Black Boys”, criticado na época num jornal por tocar o hino nacional em ritmo de twist, durante uma brincadeira dançante em Santo André, caso que foi parar no antigo Departamento da Ordem Política e Social (Dops).
“Até que tudo se resolvesse foi um transtorno muito grande. Houve uma sindicância na ordem dos músicos e lá foi relatado que, na verdade, o guitarrista foi fazer um solo e fez uma citação de uma música americana”, explica o autor.
Entre as alegrias e dramas vividos pelos personagens, estão momentos que variam da liberdade criativa do jazz à tensão provocada pelo surgimento de novas tecnologias e direções tomadas pelo mercado. “Existiam grandes e maravilhosas orquestras, aí vem a tecnologia e grupos com quatro pessoas começam a fazer os bailes e a desestabilizar o mercado, mais adiante viria a música eletrônica, e os músicos foram perdendo espaço.
Também tinha uma ala muito fiel ao jazz e à Bossa Nova, até que a Jovem Guarda começa a se fortalecer, e essa ala acaba migrando para a Jovem Guarda.” Barros fala que muitos dos personagens que aparecem em seu livro são referência e continuam na ativa e em grande forma. Com base na pesquisa que resultou no livro, ele criou o projeto “Estamos Aí - Uma geração de grandes músicos”, encerrado na última quinta-feira, no Sesc Bom Retiro.
Durante um mês e meio, cerca de 40 instrumentistas tocaram e participaram de bate-papos. Entre os que passaram por lá estão Nestico (saxofonista que começou com The Jet Blacks, integrou o naipe de sopros de Roberto Carlos e se revelou jazzista), Luiz Loy (líder do quinteto que acompanhou Elis Regina e Jair Rodrigues no “Fino da Bossa”) e Nenê Benvenutti (baixista que tocou com “Os Incríveis”, Wilson Simonal e Elis Regina).
“Como no filme ‘A Rosa Púrpura do Cairo’, de Woody Allen, em que o personagem sai da tela, parece que os caras saíram do livro e foram tocar no Sesc”, compara o jornalista. Quem não for ao lançamento em Catanduva e quiser adquirir um exemplar encontra o livro à venda no endereço eletrônico: www.novailusao.com.br.
Serviço
Lançamento do livro “Do calypso ao cha-cha-chá – Músicos em São Paulo na década de 60”, de Fernando Lichti Barros, hoje, ao meio-dia, no Bar da Alda, na rua Rio Claro, 331, em Catanduva |
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